sexta-feira, julho 22, 2005

Há-de Flutura Uma Cidade No Crepúsculo da Vida

há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira-mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a luz do amor embarcado

por vezes
uma gaivota pusava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém

e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentado à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão

(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no
coração, mas estou só, não tenho a quem a deixar.)

um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas de que alguma vez me visite a felicidade.


Al Berto

quarta-feira, julho 20, 2005

Descoberta

Queria descobrir o mundo inteiro dentro dos teus olhos,
Ver o mar,
Pisar a terra.
Descobrir nas tuas mãos a vertigem do precipicio.
E sentir na tua pele a doce melodia das aves nocturnas.

segunda-feira, julho 18, 2005

Labirintos

Procuro umas mãos que me guiem
No labirinto de sombra e esquecimento
Entre paredes feitas de água e vento.

Quero-te com a incerteza profunda do voo dos pássaros
Quero-te assim, de mão na minha percorrendo a vida
Sem certezas, sem destinos.

Só encontro mãos vagas, feitas de fumo
Que me guiam pelos caminhos estreitos
Da escória da vida.

Quando me vens pegar pela mão
E levar-me para longe daqui,
Para o meio do mar,
Entre ondas brancas e céus azuis?

Quando me vais levar pelo caminho certo?

To you...

sexta-feira, julho 15, 2005

Sen

Já não te consigo acompanhar. Espera por mim tempo ingrato. Porque corres sempre veloz e exacto. Hoje não quero, não quero mais. Quero parar e olhar as flores e ouvir o canto dos pássaros. Vai, podes correr que eu vou ficar. Hoje não te quero seguir. Hoje não quero que mandes em mim. Quero sentir o que é a liberdade de não ter de ser exacto. De poder para se me apetecer. Vai, corre que o mundo precisa de ti. Mas não contes comigo, hoje não. Hoje vou ser mais um relógio atrasado.

Elegia

Há um lugar vazio ao meu lado
Preenchido apenas pela recordação do teu olhar doce
Pela memória do sal da tua pele
Renasces de uma rosa feita sol
De um olhar feito mar

Sabes-me

Uma lágrima cai do teu rosto
Sabe a sal e solidão
Sabe a dis de sol e chuvas de inverno
Sabe a ti e sabe a mim
Sabe a um mundo de palavras indiziveis
Sabe-me a dor e alegria

quarta-feira, julho 13, 2005

Desperate Housepets

sexta-feira, julho 08, 2005

Londres - 7 de Julho de 2005

Em memórias dos que morreram. O Silêncio e a morte não irão vencer a batalha contra o amor.


Está tudo negro. Consigo apalpar o muro sólido de fumo que me rodeia. Há um cheiro de morte que me agarra e não me larga.
Primeiro foi a luz brilhante, imensa. Depois o calor que me queimava, como se demónios de fogo me arrancassem a pele e me deixassem nu, exposto. Depois o silêncio. As pessoas ao meu redor corriam, gritavam e eu no silêncio. Sozinho no silêncio com a tua memória. Só tu me importavas naquele momento. Só tu e todos os momentos doces e ternos que passámos.
E o medo chega. Chega o medo imenso de te perder para sempre. De que o silêncio e a morte ganhem a batalha contra o amor.
O medo fecha-se ao meu redor. Queria que o teu amor me protegesse deste calor, mas não. As labaredas à minha volta, queimam os corpos já sem vida. Assim serei eu. Um corpo sem vida, quendo de novo me acolheres a cabeça no teu regaço, quando de novo me deres a mão.
Ia de novo rever-te, estava quase a chegar a Kings Cross, quando a luz, o calor e a morte chegaram sem aviso. Nada mais além da morte, que me acompanhava, silenciosa sob o banco onde me sentava.
Sinto a morte chegar. Sobre o metal retrocido e o cheiro acre a sangue, só me resta dizer-te adeus.
Quis a vida que não houvesse hoje um último abraço. Queria a tua mão aqui, para levar comigo a lembrança da tua pele.