segunda-feira, maio 24, 2004

Estes são os livros da vida de algumas pessoas...

Gulosa Sara:

Tenho tantos livros, tal vez cada um deles tenha sido importante na época em que os li... Aqui fica uma pequena lista:

História Interminável, Michael Ende
La tabla de Flandes, Pérez-Reverte
O retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde
Los renglones torcidos de Dios, Luca de Tena
O principezinho, Saint-Exúperie
O mistério do jogo da paciências, Jostein Gaarder
Una playa muy lejana, Pedro Mechén
Kurika, Henrique Galvão
O Processo, Kafka
O último dia de um condenado, Victor Hugo

Depois deixo aqui mais...

Tania:

Tanucha assim de um instante para outro só se lembra de:

Amor em Tempos de Cólera - Gabriel Garcia Marques
Hamlet - Amigo Shake
Na Terra dos Cangurus - Bill Bryson
Servidão Humana - Somsert Maugham
As Cidades e as Serras - Eça de Queiroz
Para acabar de vez com a cultura - Woody Allen

hmmm ...hmmm...

JED:

só para deixar aqui alguns exemplos, que são os que estão à mão: deixo também um comentário do porque (penso que só assim faz sentido falar-se dos livros - ou parte dos livros da minha vida).

De Ludwig Joseph Johan Wittgenstein - Tratado Logico-filosófico e Investigações filosóficas. Traduzido para português por M. S. Lourenço, editado pela Fundação Calouste Gulbenkian (foi comprado se bem me lembro na livraria 115, com o que ganhei a dar umas explicações de filosofia. Ao contrário de quase todos os meus livros não está assinado, mas possui uma sobrecapa de pano feita pela minha mãe com um W bordado). Conheci Wittgenstein no 12º ano, através de um artigo na saudosa revista capa - rui Martins (penso que se chamava assim o jornalista) fazia uma pequena biografia de wittgenstein: o santo. E, de facto, Wittgenstein atrai imediatamente pelo "exagero" da sua personalidade. Pedi então à minha professora de filosofia, a queridissima Dra. Violante Pereira de Oliveira, que me emprestasse algum livro sobre ele. Emprestou-me um das edições setenta, mas esse livro assentava sobretudo na lógica e na matemática o que para uma aluno de humanidades não era muito bom. Depois tive mais que fazer nos anos seguintes, até voltar para Coimbra e para a faculdade, para não tirar (lol) filosofia. Aí encontrei alguém que tinha feito a tese sobre wittgenstein. Ora sendo eu o único aluno a sequer ter alguma vez ouvido falar dele imaginam que a profª engraçou comigo. eu e com ela. tivemos algumas conversas bastante interessantes. apresentei-lhe um pequeno trabalho sobre wittgenstein - extra-aulas - que ela criticou entusiasmando-me para continuar a investigação. Nessa altura já outros livros de Wittgenstein tinham entrado na minha vida, sobretudo o Cultura e Valor, assombroso livro de aforismas. Como piada os meus colegas chamavam-me o IV Wittgenstein (isto porque normalmente os filósofos têm fases - como Picasso por exemplo teve as suas - e então havia o 1º e 2º wittgenstein. o 3º nunca soube quem era lol).
Bom, voltando ao livro e reduzindo as razões da minha escolha a duas: a primeira parte do livro (tratado lógico-filosófico) é, para um leigo da lógica e da matemática como eu, bastante difícil. No entanto ficam-me duas ideias essenciais que ainda hoje me ajudam a pensar:
(1) ali Wittgenstein marca a diferença do que pode ser dito: são aquelas proposições que têm referência com o real e são lógicas. tudo o resto só pode ser mostrado. Se isto parece simples, e até pode ser que o seja, verificamos que a maior parte das nossas vidas são do reino do mostrar e não do dizer. posso dizer: o gato está em cima do tapete. todos conseguimos imaginar um gato sentado num tapede. Mas não posso dizer: eu gosto de ti: não tem referenciais - portanto a proposição não é do reino do dizer - do dito - mas do mostrar.
(2) porque wittgenstein mostrou que um mundo inteiro quando acaba um livro de lógica com uma frase (quase) mística: a famosa proposição 7. «Acerca daquilo de que se não pode falar, tem que se ficar em silêncio».
A segunda razão tem a ver com a segunda parte do livro: Investigações Filosóficas. wittgenstein não tem método nessa parte. São pequenos ou grandes diálogos em que se entretem a pensar sobre as coisas e chega ao conceito de Jogos da Linguagem: basicamente este conceito refere que para falarmos uns com os outros precisamos conhecer as regras da linguagem - como quem joga xadrez tem de conhecer as suas regras: o rei não pode fazer os movimentos do cavalo. Penso que até mesmo no surrealismo este conceito se aplica: pois uma pessoa comum ao ler um texto surrealista não percebe nada. Ou apenas aquelas partes em que conheça as regras.
(escrevi demais não foi... nos próximos escrevo pouco lol).

Segundo livro que tenho aqui: Antígona de Sófocles - traduzida por Maria Helena da Rocha Pereira editada em Dezembro último em conjunto com as outras tragédias de Sófocles que chegaram até nós, pela MinervaCoimbra. Para ser breve trata-se de uma tragédia que permite pôr quase todos os dilemas éticos e políticos que possamos pensar. Um dia escrevei sobre ela, pois tenho algumas coisas preparadas. Vamos ver...

Terceiro livro de Eric-Emmanuel Schmitt - O Evangelho segundo Pilatos, editado pela Âmbar. Se é verdade que é um livro desigual entre as duas partes que o compõem, a primeira pelo punho de Jesus, a segunda relatando a história de pilatos (sendo a primeira a melhor), Eric-Emmanuel Schmitt é de facto um dos maiores escritores da actualidade. A primeira parte atinge, em alguns momentos, uma veracidade, um tamanha força espiritual que encontrei em muito poucos livros. «Tinha voltado as cartas do mundo. Via o jogo ao contrário. Os homens jogavam mal: julgando ganhar, lançavam as cartas erradas. A força. O poder. O dinheiro. Por meu lado, apenas amava os excluídos deste jogo estúpido, os inadaptados, aqueles que o jogo rechaçava para lá destes limites e que não mais ousavam regressar: os pobres, os ternos, os sofredores, as mulheres, os perseguidos.»
Tem, em muitos aspectos, reminiscências da ética de responsabelidade de Emmanuel Lévinas. O Outro é presença do divino: por isso há coisas que deixam de fazer sentido e a nossa responsabilidade por cada um torna-se imperiosa.
«A única coisa que a morte nos ensina é a urgência do amor».
Infelizmente, nos tempos que correm, são precisas demasiadas mortes (Bod Dylan) para que percebamos isso...

Quarto livro e por aqui termino hoje - e se calhar não volto que já devem estar fartos de me ler LOL - O túnel de Ernesto Sabato. Publicado em portugal pelos Livros do Brasil. Ora aqui está um bom romance que nos faz entrar pela complicação que é a condição humana. Ernesto Sabato era um cientísta famoso que deixou a sua profissão para se dedicar a outras coisas: entre elas a escrita - não só de romances, mas sobretudo de ensaios sobre a condição humana.
Este romance tem várias qualidades: uma: é absorvente - já o emprestei a pessoas que nunca lêem nada e depois me dizem, não consegui parar... quase não dormi. E eu rio. Fala de um homem que ama tanto que mata! Têm de ler!


Alguns livros que o Coroneu gosta:

-Contos e O Tio Vânia, de Tchekov: qualquer conto, mas de preferência os mais curtos. Está lá tudo! O Tio Vânia é uma peça de teatro muito boa. Anton Tchekov sustentava a mãe e irmãos enquanto estudava medicina, com estes pequenos contos publicados em jornais. Com 23 anos. O Coroneu tem pena de não saber russo...
-Huckleberry Finn, Mark Twain: Hemingway disse deste livro q "n havia nada antes, n haverá nada depois". Ainda hoje proibido em algumas escolas norte-americanas q acusam o livro de racismo. O livro retrata o racismo da altura do escritor, usa vários sotaques sociais e geográficos nos diálogos e é a história q todos conhecemos.
-Winnesbourg,Ohio, de S.Anderson: O Coroneu é um apreciador da geração perdida e este senhor com este livro influenciou reconhecidamente Scott Fitzgerald, Hemingway, James Joyce, W.Faulkner, Ford Maddox Ford...
-Nick Adams Short Stories, The Sun Also Rises e Farewell to Arms: O Coroneu leu toda a obra de Hemingway, incluindo os artigos de jornal. O melhor são os contos com a percepção do estado de espirito da personagem.
-The Sound and the Fury: W.Faulkner trabalhava nos correios. S.Anderson garantiu-lhe que lhe publicava o seu primeiro livro se o nao tivesse que ler. Anos depois, decepcionado com a critica Faulkner escrevia este livro para ele próprio. Três irmãos têm diferentes formas de contar o que aconteceu.
-Rayuela, de Cortazár: Cortazár foi um argentino à frente do seu tempo pelas técnicas de escrita. Este romance usa a agora muito em voga recursão de tempo, alteração de personagens, etc,... E pode ser lido continuamente ou salteando capitulos indicados pelo autor, como no jogo da macaca (é o k significa Rayuela em castelhano).
-Las Venas Abiertas de America Latina, de Galeano: Eduardo Galeano é um Uruguaio que percorreu toda a américa latina, trabalhou como mineiro, etc...Este livro é um ensaio social e politico que fala das razões q levam o continente a ser o q é hoje.
-Principezinho e Courrier Sud, Saint Exupery: Nem é preciso falar deste. O segundo foi o primeiro livro do autor e fala de duas pessoas q se querem bem mas... Quem dera ao Coroneu ter escrito estes livros :).
-Jonathan Livingston Seagull e The Bridge Across Forever, de R.Bach: O primeiro pq o Coroneu gostou muito qd era adolescente. O segundo fala do destino e de almas gémeas e é muito sincero e tão universal qt um livro o pode ser. Deve dar muito trabalho escrever livros tão simples.
-Manual dos Inquisidores, de Lobo Antunes: Este e os primeiros são muito expressionistas, nota-se sangue nos livros. Há quem não goste, o Coroneu gosta.
...
E muitos mais, o Coroneu podia estar um dia inteiro a falar disto, a acrescentar Corto Maltese por exemplo, mas já chega... Há é o medo de esquecimento de algum importante...